quarta-feira, 24 de agosto de 2011

FENÔMENOS ESPÍRITAS NOS EVANGELHOS - REFERÊNCIAS POR LEON DENIS


Importante registrar, na introdução deste estudo, as sábias palavras de SEVERINO CELESTINO DA SILVA (in Analisando as traduções bíblicas, 3a. ed., João Pessoa, ed.. Idéia, 2001, PB), tido como profundo conhecedor do hebraico, que é a original língua em que foi escrita a Bíblia, quando nos fala, in verbis:


... "Durante muito tempo nós temos convivido com as informações dos textos bíblicos, que nos são trazidas por tradutores ocidentais e sobretudo tradudores não espíritas. O resultado é que ficamos à mercê dos que nos transmitem conceitos, dentro de suas interpretações pessoais. Temos ainda o desprazer de conviver com as informações tendenciosas que cada um coloca em suas traduções bíblicas, fazendo uma exegese puramente pessoal e informando, categoricamente, que a Bíblica condena o Espiritismo.

A Bíblia passou por muitas fases até chegar ao seu estágio atual. Desde a sua língua original até chegar ao Ocidente, passou do hebraico para o grego, na famosa tradução dos Setenta (LXX - Septuaginta), daí para o latim com a Vulgata de São Jerônimo, depois para os diversos idiomas ocidentais e, finalmente, para o português até as nossas mãos.

O interessante, nisso tudo, é que são encontradas muitas diferenças de tradução entre elas. E por que? O texto que as originou não foi o mesmo? Por que falta unanimidade em suas traduções?

E a única resposta encontrada é esta: a questão pessoal que cada corrente religiiosa coloca em sua tradução.

Sempre nos surpreendemos ao ouvir pessoas afirmarem que a Bíblia condena o Espiritismo. E gostaríamos de questionar com a seguinte pergunta: qual a Bíblia (dentre as inúmeras traduções) que condena o Espiritismo?

Não é difícil concluir que houve uma desnaturação dos conceitos mais evidentes da Bíblia, adulterando-se a sua verdadeira essência.

Na verdade, a Bíblia, em sua língua original, não condena o Espiritismo, pois este nem existia na época em que os profetas receberam os seus livros sagrados.

Os textos hebraicos do Tanach, os textos gregos da Septuaginta (LXX - Bíblia em grego) e os textos da Vulgata (Bíblia em latim) também não trazem condenação ao Espiritismo, o que é lógico, visto que o Espiritismo não existia no período em que estas traduções foram realizadas."

... OMISSIS ...

..."Na questão 1009 de O Livro dos Espíritos, Platão faz referência à necessidade de que se faça uma consulta aos textos sagrados em suas fontes originais, mostrando que os gregos, os latinos e os modernos não deram a mesma significação aos textos originais hebraicos, em específico com relação às penas eternas.

O rabino Moshe Grylak afirma, em sua obra Reflexões da Torá, que não é possível, para nenhum de nós, avaliar os eventos bíblicos, pois a distância física e de tempo impede uma avaliação objetiva e abrangente." ...

... OMISSIS...

... "Cabe aqui um questionamento: por que precisam existir tantos tipos de bíblias em português, quando a Bíblia hebraica que as originou é uma só?

Os homens criaram, através dos tempos, conceitos e adaptações dos textos bíblicos às suas conveniências pessoais. E o resultado é que, ainda hoje, são encontradas, no Ocidente, muita discrepância, discondância e derivações da Bíblia. Começa pela diferênça entre a Bíblia católica com 73 livros e a protestante com 66, quando a Bíblia hebraica tem apenas 24 livros" (fonte citada, destacamos os trechos acima, sendo nossos os negritos apresentados).

Feita a introdução, com as advertências relevantes em questão, passemos a considerar que há temas em relação aos quais nos desdobramos constantemente. As questões relativas aos fenômenos espíritas na bíblia são daquelas que nos obrigam a pesquisar e refletir... Mas, da grandeza da iluminada inteligência e do alto da clareza da mensagem, LEÓN DENIS (1846-1927), na obra CRISTIANISMO E ESPIRITISMO (ed FEB, 1a edição, 2008, fls. 379/390), nos deixa elucidativo ensinamento, que ora pedimos licença para em parte reproduzir aqui, in verbis:


..."Muito se tem insistido sobre as proibições de Moisés, contidas no Êxodo, no Levítico e no Deuteronômio. É inspirados em tais proibições que certos teólogos condenam o estudo e a prática dos fatos espíritas.

Mas o que Moisé condena são os mágicos, os adivinhos, os áugures, numa palavra, tudo o que constitui a magia, e é o que o próprio espiritualismo moderno também condena.

Essas práticas corrompiam a consciência do povo e lhe paralisavam a iniciativa; obscureciam nele a idéia divina, enfraquecendo a fé nesse Ente supremo e onipotente que o povo hebreu tinha a missão de proclamar. Por isso não cessavam os profetas de o advertir contra os encantamentos e sortilégios que o perdiam. (Isaías, XI.VII, 12-15)" ...

... OMISSIS....

..."Lá não vemos Daniel, por exemplo, provocar, por meio da prece, fatos mediúnicos? (Daniel, IX, 21.) O livro que traz o seu nome é, entretanto, reputado inspirado.

Como poderiam as proibições de Moisés servir de argumento aos crentes dos nossos dias, quando, nos tres primeiros séculos da nossa era, nisso não viam os cristãos o menor obstáculo às suas relações com o mundo invisível?

Dizia S. João: "Não acrediteis em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus," (I João, IV, 1.) Não há aí uma proibição; ao contrário.

Os hebreus, cuja crença geral era que a alma do homem, depois da morte, era restituída ao scheol, para dele jamais sair (job, X, 21, 22), não hesitavam em atribuir ao próprio Deus todas essas manifestações. Deus intervém a cada passo, na Bíblia, e às vezes mesmo em circunstâncias bem pouco dignas dele.

Era costume consultar os videntes sobre todos os fatos da vida intima, sobre os objetos perdidos, as alianças, os empreendimentos de toda ordem. Lê-se em Samuel I, cap. IX, V. 9:

"Dantes, quando se ia consultar a Deus, dizia-se: Vinde, vamos ao vidente. - Porque os que hoje se chamam profetas, chamavam-se videntes."...
...OMISSIS...
... "Em muitos casos mesmo deveram eles ter em conta, em suas revelações, as necessidades do tempo e o estado de atraso do povo a que eram dirigidos.

Pouco a pouco as crenças dos judeus se ampliaram e se completaram ao contacto de outros povos mais adiantados em civilização. A idéia da sobrevivência e das existências sucessivas da alma, vinda do Egito e da Índia, penetrou na Judéia. Os saduceus increpavam os fariseus de terem assimilado dos orientais a crença nas vidas renascentes da alma.

Esse fato é afirmado pelo historiador Josefo (Antig. fud., I, XVIII). Os essênios e os terapeutas professavam a mesma doutrina. Talvez existisse mesmo, desde essa época na Judéia, como se provou mais tarde, ao lado da doutrina oficial, uma doutrina secreta, mais completa, reservada às inteligências de escol.

Como quer que seja, voltemos aos fatos espíritas mencionados na Bíblia, os quais estabelecem as relações dos hebreus com os Espíritos dos mortos, em condições análogas às que são hoje observadas.

Do mesmo modo que em nossos dias, os seus médiuns, a que eles chamavam profetas, eram como tais reconhecidos em razão de uma faculdade especial (Números, XII, 6), às vezes latente e que exigia um desenvolvimento particular semelhante ao ainda hoje praticado nos grupos espíritas, como o vemos a respeito de Josué, que Moisés "instrui" pela imposição das mãos (Números, XXVII, 15-23:) Esse fato se reproduz muitas vezes na história dos apóstolos.
"...
...OMISSIS...
... "
O eterno quer assistir na obscuridade", diz Salomão, falando do lugar santo, por ocasião da consagração do Templo (Crôn., II, VI, 1) , e é, com efeito, no santuário que se dão muitas vezes as manifestações; aí se mostra a "nuvem" (II, Paralip., v, 13, 14), e nele vê Zacarias o anjo que lhe prediz o nascimento de seu filho. (Lucas, I, 10 e seguintes.)

A música era igualmente empregada para acalmar as pessoas atuadas por algum mau Espírito, como o vemos com Saul, que a harpa do jovem David aliviava. (I, Samuel, XVI, 14-23.)
"...
...OMISSIS...
"
As curas magnéticas são inúmeras. Ora a prece e a fé reforçam a ação fluídica, como no caso da filha de Jairo (Lucas, VIII, 41, 42, 49-56), ora a força magnética intervém só por si, sem participação da vontade (Marcos, V, 25-34), ou ainda se obtém a cura por imposição das mãos, ou por meio de objetos magnetizados (Atos, XIX, 11-12).

A mediunidade com o copo d'água igualmente se encontra nessas antigas narrativas. Que é, de fato, a taça de que José se servia (Gênesis, XLIV, 5) "para adivinhar", senão o vulgar copo d'água, ou a esfera de cristal, ou qualquer outro objeto que apresente uma superfície polida em que os médiuns atuais vêem desenhar-se quadros que são os únicos a perceber?

Na Bíblia podem-se ainda notar casos de clarividência, compreendendo, então, como hoje, sonhos, intuições, pressentimentos, formas ou derivados da mediunidade que, em todos os tempos, foram grandemente numerosos e se reproduzem agora às nossas vistas.

Digamos ainda uma palavra da inspiração, esse afluxo de elevados pensamentos que vem do alto e imprime às nossas palavras algo de sobre-humano. Moisés, que apresentava todos os gêneros de mediunidade, profere, em diferentes lugares, cânticos inspirados ao Eterno, como por exemplo, o do capítulo XXXII do Deuteronômio.

Um caso notável, assinalado nas Escrituras, é o de Balaão.

Esse mago caldeu cede às reiteradas solicitações do rei de Moab, Balac, e vem dos confins da Mesopotâmia para amaldiçoar os israelitas. Sob a influência de Jeová é obrigado, repetidas vezes, a elogiar e abençoar esse povo, com decepção cada vez maior de Balac (Números, XXII, XXIII, XXIV).

Os homens da Judéia, esses profetas de ânimo impetuoso, experimentaram também os benefícios da inspiração, e graças a esse dom, a esse sopro que anima os seus discursos, é que a antiga Bíblia hebraica deve ter sido muito tempo considerada o produto de uma revelação divina. Pretendeu-se desconhecer as numerosas falhas que nela se patenteiam aos olhos de um observador sem preconceitos, a insuficiência, a puerilidade dos conselhos, ou dos ensinos implorados a Deus (Gên., XXV, 22; I Reis, IX, 6; IV Reis, I. 1-4: I Reis, XXX, 1-8), quando nos censurariam, com razão, de tratar dessas coisas nos grupos espíritas.


Esquecem-se as crueldades aprovadas, mesmo quase recomendadas por Jeová, os escabrosos detalhes, finalmente tudo o que, nesse livro, nos revolta ou provoca a nossa reprovação, para não ver senão as belezas morais que nele se contêm e sobretudo a expressão de uma fé viva e passional, que espera o reino da justiça, senão para a geração contemporânea, que só a esperança ampara e fortifica, ao menos para as gerações futuras.
" (fonte citada, destacamos trechos e são nossos os sublinhados)





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